18 de fevereiro de 2013

...e as primeiras reflexões


Reflexão 1: "Através do orgulho estamos sempre nos enganando. Mas no fundo, abaixo da superfície da consciência mediana uma constante, baixa voz nos diz, algo está errado." CS Jung.

Eu realmente pretendia continuar me atendo aos fatos, mas pareceu-me justo também colocar certas reflexões quando não encontrasse um fato suficientemente adequado para conseguir me expressar exatamente da forma que queria. Escrever, como eu antes dissera, se provou novamente libertador, mas incrivelmente difícil. 

Demorou-me um certo tempo para encontrar as palavras certas para falar sobre isto. Eu pretendi escrever sobre isto ontem, quando isto era mais sobre outras  coisas do que sobre o que vou falar, mas ontem eu não encontrei as palavras, nem a disposição para escrever. E hoje, no pouco tempo que hoje foi, aconteceram outras coisas que me levaram a isto. 

Dos sete pecados capitais, é certo dizer que o meu sempre foi o orgulho. Eu não lembro ao certo quando ele começou, mas sei dizer alguns fatores que o construíram. Não vou me estender por todos eles porque isto seria quase um livro, mas vou me ater aquele que, ao meu ver, foi o mais decisivo: ser boa, a ponto de ser até considerada a melhor, em algo.

Eu convivo e convivi com muitas pessoas que me disseram "não ter descoberto o dom" ou "não ser particularmente bons em nada" e confesso que era um tanto condescendente com eles, afirmando que não havia grande problema nisto e que eles tinham, era claro, algo que eram bons em. Porque eu sempre consegui achar algo em que era boa, fosse em canto, fosse em leitura, fosse na escola em particular. 

E a máxima de que adolescentes acham que nada os toca, que são invencíveis, era perfeitamente cabível para como eu costumava me sentir. Até o momento em que algo me tocou e me mostrou que eu não era, realmente, melhor em nada. E talvez até soe um tanto melodramático colocado deste jeito, mas não vejo outro: a revelação me quebrou. 

Você sabe, quando você tem um dia realmente fodido, desprezível, o qual você termina miserável, querendo simplesmente desaparecer para sempre para que você pudesse parar de se sentir deste jeito? Eu não tive um dia desses. Eu tive semanas. 

Como eu comentei no post passado, eu não passei em nenhuma universidade. Minha mãe teve muito a dizer sobre isto, perguntando o que "havia acontecido" e porque eu deixara "a situação chegar naquele ponto" e foi ela quem repetidamente me falara sobre meu orgulho. O não passar, o falhar com tudo pelo que meus anos escolares foram direcionados para foi o algo, foi a revelação. 

Ela me dissera que por causa do meu orgulho eu não buscara ajuda em quaisquer que fossem minhas dificuldades escolares. Estava certa. Tão estava certa que a pouco eu admiti que, lá para o mês de Novembro do ano passado, eu sabotei a mim mesma. Havia uma grande parte de mim que já dizia "você não vai passar, qual o ponto em estudar?" e lentamente, quase que sem perceber, eu fui abandonando aos poucos tudo. 

Eu ainda, teoricamente, estudava. Ainda fazia as provas com afinco. Mas no fundo eu já havia desistido antes mesmo de completar. Não admitia, é claro, o orgulho me prevenia disto. Mas eu havia. E talvez seja o que faça tudo doer mais. Que no fundo, por mais que eu não dissesse, que não mostrasse, eu já sabia que não era mais boa, a melhor, em nada. 

Eu ainda estou no processo de aceitação, o qual dizem ser o último para alcançar a superação. Eu ainda tenho aqueles dias em que quero desaparecer. Hoje foi um deles. Causado tão somente por um comentário que eu tenho certeza que era para ser motivacional, "continue estudando que vai valer a pena". 

Eu novamente sinto a raiva que o comentário me provoca. A raiva e a tristeza. Como se eu não soubesse que vale a pena. Como se eu não quisesse já ter conseguido atingir o momento em que tudo vale a pena. Como se eu não houvesse tentado. Como se eu quisesse passar um ano da minha vida no repeat, vendo tudo que já vi simplesmente porque não fui boa o suficiente para ter conseguido da primeira vez. 

Minha psicóloga diz que não era questão de ser "boa o suficiente", que "Medicina é difícil mesmo" e sei que ela não esta tentando soar consoladora, mas é tudo o que eu ouço. Porque eu tinha orgulho. Porque eu costumava ser boa o suficiente. Mas chegou uma hora que eu não fui mais. Que me acomodei, achando que já o era, e as pessoas me passaram e eu fiquei para trás.

E por mais que eu fantasie que não é aqui que eu deveria estar, é onde estou. Para trás, olhando as pessoas atingirem seus objetivos enquanto eu não consegui atingir o meu. Mas, como eu continuo a dizer, estou na aceitação, um passo para a superação. Na maioria dos dias eu consigo ver "a luz no fim do túnel", "o lado bom da situação". Mas outros dias eu somente remoo os atos aos quais meu orgulho me levou.

13 de fevereiro de 2013

Primeiros comentários factuais...


Fato 1: Altruísmo é mais raro em seres humanos do que a síndrome de Chediak-Higashi. 

Eu estava pensando sobre como recomeçar a escrever em um blog, sobre como meus posts deveriam ser (sobre como eles não deveriam ser você pode ter uma ideia olhando qualquer post que venha antes deste) e cheguei a não tão brilhante conclusão que, seguindo o nome do mesmo, eu contaria sobre acontecimentos cotidianos baseado em um fato. Tosco, talvez, mas ainda assim bem prático (e até um pouco original, até onde meu conhecimento vai).

Você provavelmente não tem a menor ideia do que seja a síndrome de Chediak-Higashi (sem contar que não tem a mínima ideia de como se pronuncia isto) e nem eu tinha, até cinco minutos atrás e uma pesquisa no oráculo Google ("Doenças mais raras do mundo") que me levaram a entender que esta síndrome é uma doença autoimune que afeta menos de 200 pessoas em todo mundo. Mas você não está aqui (presumindo que alguém esteja ai) para aprender sobre doenças. 

Quando eu digo altruísmo, não falo de pensamentos felizes sobre os outros somente, sobre mandar um recado no Facebook desejando o tão comum "tudo de bom" para alguém, sobre deixar de flertar com algum cara porque uma de suas amigas tem uma queda por ele. Falo sobre o altruísmo que, e digo somente de minha parca experiência, mães desenvolvem por seus filhos, que as fazem desistir de parte da vida, etc. 

E eu me peguei pensando sobre isto, da primeira vez, quando conversava com umas amigas sobre o tópico "estar feliz sobre o sucesso do outro" e agora novamente quando tive um outro desses momentos, desta vez sem conversar com ninguém. 

Não pretendo soar como uma vadia sem coração quando digo isto, mas apenas 1/4 de você fica realmente excitado e feliz. E provavelmente não é sua culpa. Nós somos socialmente condicionados a quererem ser os melhores em tudo, os primeiros em tudo. Talvez eu deva me corrigir neste ponto, dizendo que alguns de nós são, mas na verdade eu penso que todos somos, uns mais abertamente, outros ainda em fase de negação. 

Meu grande exemplo vai ser verídico (e sim, talvez eu esteja generalizando ao dizer que todos somos condicionados e talvez seja eu tentando apaziguar uma ponta de culpa por não ter como primeiro pensamento "Estou realmente feliz por ela/ele"): ano passado eu estava no último ano do Ensino Médio, e como é usual, prestei vestibular. E não passei. Não em uma ou duas universidades, mas não passei em nenhuma a qual prestei. 

E sim, talvez minha escolha de carreira não ajude eu passar com facilidade (a menos que eu fosse um gênio e passasse em primeira em Medicina), mas quem passou por isto sabe que olhar os pontos onde você supostamente não teve culpa não adiantam de nada. Você está emocionalmente arrasada, pode não mostrar, pode não falar sobre isto, mas está. 

Bom, o fato é que algumas de minhas melhores amigas passaram em algumas ou todas as universidades que prestaram. E eu genuinamente fiquei feliz por elas durante certo momento, elas mereceram e muito, estudaram por isto. Mas (e sempre há um mas), eu não tinha conseguido para conseguir partilhar uma felicidade completa. E é ai que o fato da realidade altruística atinge. 

A pontada de culpa pelo meu primeiro pensamento, em todas as vezes em que recebo uma notícia sobre o sucesso de alguém, sendo este alguém próximo a mim ou não, ser "e por que não eu?" é uma pontada que atinge pontualmente após o pensamento.

A inveja é um sentimento estranho. Você sabe que sente, mas não admite para si mesmo até que ela tenha tomado conta de muitas de suas ações. Eu cheguei na parte de admitir faz pouco tempo, e foi um longo caminho até isto. Não sei dizer se me sinto muito melhor agora que consigo trabalhar em não me sentir deste jeito ou se a ignorância realmente é uma benção. Mas, como eu a pouco dizia para uma outra amiga, você não sabe até tentar.

Talvez eu esteja errada e o verdadeiro altruísmo seja mais comum do que eu pense, afinal, eu tenho claras tendências à negatividade. Mas eu acho (como as pessoas que acham normalmente o fazem) que não é o caso e que o grande Eu (com todas as fases conscientes e subconscientes que te formam) ainda é a parte dominante da relação.